terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Segurando a lâmina com as mãos nuas e a arte de transformar situações

Todo conhecimento e todo ofício guarda em sua dimensão abstrata uma proporção com a universalidade das coisas. Desde percepção que ramos específicos do conhecimento podem revelar princípios de aplicação geral, revelando num plano intelectual e metafísico a idéia contida na máxima "Omnia ab Uno", a multiplicidade guardando sua razão de semelhança com a universalidade. 

Por isso diversos ramos de ofício transmitem ao mundo, cada um em sua própria língua, parcelas de uma apreensão da universalidade; das associações de pedreiros livres ao Gray's Anatomy(aliás, um ótimo trocadilho)

A mesma idéia pode se aplicar a qualquer forma de ofício e isso não foi diferente entre os famigerados guerreiros japoneses. Ninjas e Samurais. A idéia por trás de tudo é que pela imersão do pensamento numa atividade, essa atividade nos revele sua proporção com o todo. 

Mutou Dori; é a arte de agarra lâmina com as mãos nuas. Ela compreende uma série de técnicas de desarmamento contra armas brancas, sejam espadas, facas ou lanças.

Em mutou dori, não basta esperar o golpe; é uma forma avançada onde entramos no campo do desenvolvimento do coração de um guerreiro. A atitude não é de espera mas de oferta. Nas técnicas de mutou dori, oferecemos nosso corpo para ser golpeado. 


Pode parecer loucura oferecer a cabeça para ser golpeado por uma espada, mas esta atitude quando feita conscientemente permite controlar o desfecho de um evento inevitável. Isto é, numa situação de guerra, frente a um inimigo armado, você com certeza será atacado. Contudo, nessa aparente passividade, dirigimos o impeto do ataque segundo o que nos é conveniente dirigindo a situação segundo nossa vontade. 

No ocidente medieval muito se falou da aplicação do ativo sobre o passivo, os orientais porem parecem ter compreendido o outro lado da moeda. 


Existe na aceitação um mistério particular que reside justamente na forma como nos dispomos aceitar algo. Da mesma maneira que uma submissão cega entrega o controle da situação nas mãos do agente, a ação cega submete o agente a re-ação do paciente. 

Podemos transferir essa idéia a diversos aspectos de nossa vida, ofertando-nos voluntariamente as situações inevitáveis porém escolhendo a maneira mais conveniente de receber a situação. Na compreensão disto, repousa metade do poder transformador que existe a disposição de todos os seres humanos.

São duas esfinges... uma branca e uma negra, que conduzem o carro da vitória


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